Apesar da gravidade, a saúde mental perinatal ainda não recebe a devida atenção em políticas públicas e protocolos de rastreamento no país
O suicídio materno é hoje uma das principais causas de morte entre mulheres no período perinatal — que vai da gestação até os 12 meses após o parto. Estudos internacionais apontam que o problema é urgente, mas ainda pouco debatido, especialmente no Brasil, onde os registros seguem priorizando complicações obstétricas e deixam de fora o rastreio sistemático de transtornos mentais.
No Reino Unido, a Maternal Mental Health Alliance aponta o suicídio como a principal causa direta de morte materna entre seis semanas e um ano após o parto, responsável por 39% das mortes tardias. Nos Estados Unidos, dados do CDC, analisados pelo Pew Research, mostram que as mortes por suicídio entre gestantes e puérperas já superam causas obstétricas como hemorragias e transtornos hipertensivos. Revisões acadêmicas recentes, como a publicada no Current Psychiatry Reports (2023), indicam que até 20% das mortes maternas no pós-parto estão relacionadas ao suicídio.
No Brasil, entretanto, as estatísticas oficiais continuam restritas a causas como hemorragia, pré-eclâmpsia e infecção. Sem protocolos nacionais de acolhimento psicológico no pré-natal e no pós-parto, inúmeros casos seguem subnotificados e invisibilizados.
Para a psicóloga Nicole Amorim, especialista em saúde mental perinatal e fundadora da campanha Maio Furta-Cor, a negligência é alarmante. “O período perinatal é uma janela crítica para a saúde mental da mulher. Violência doméstica, histórico de abuso, ausência de rede de apoio e transtornos psiquiátricos aumentam significativamente o risco de suicídio. A prevenção é possível, mas ainda negligenciada”, explica
Nicole reforça que a questão ultrapassa o drama individual: “Cada morte evitável representa não só uma perda irreparável para a família, mas também um impacto profundo sobre bebês e gerações. É urgente que sociedade e sistemas de saúde reconheçam a importância do rastreio psicológico durante toda a gestação e após o parto”, fala.
Pesquisas internacionais, como a revisão publicada no BMJ Open, confirmam que o suicídio materno é relevante mesmo em países de alta renda, como Reino Unido e Estados Unidos. Em nações de média e baixa renda, o problema tende a ser ainda mais grave, embora menos documentado.
O alerta de Nicole deixa claro: políticas de saúde materna não podem se restringir às complicações obstétricas clássicas. É necessário incluir saúde mental, rede de apoio e acompanhamento contínuo — medidas que salvam vidas e poderiam evitar tragédias silenciosas.
Sobre Nicole Amorim:
Nicole Amorim é psicóloga especialista em saúde mental materna e uma das principais vozes do Brasil na conscientização sobre os desafios emocionais da maternidade.
Fundadora da campanha Maio Furta-Cor, que promove anualmente uma ampla mobilização nacional em prol da saúde mental perinatal, Nicole é referência no cuidado com mulheres gestantes, puérperas e mães em diferentes fases da vida.
Com formação em psicologia perinatal, saúde da mulher, intervenções em crises e parentalidade, atua na prevenção, acolhimento e tratamento de questões como depressão pós-parto, ansiedade, burnout materno, luto gestacional e sobrecarga materna. É idealizadora da Acolhedoramente, plataforma que une escuta qualificada, produção de conteúdo e ações de impacto voltadas ao bem-estar emocional das mulheres.
Sua atuação combina rigor técnico, comunicação sensível e compromisso social com a desromantização da maternidade e o fortalecimento das redes de cuidado.
Tatiana Fanti - Prima Donna Comunicação 11 988828504 [email protected] https://www.instagram.com/primadonnacomvc/